Nas últimas semanas, assistimos atônitos à maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. Parte do estado segue submerso sob as águas dos temporais, deixando centenas de mortos e mais de 2 milhões de pessoas afetadas. A pergunta que todos se fazem é simples: parte disso poderia ter sido evitado?
Não sou especialista em clima, muito menos em gestão de catástrofes climáticas. Mas, como cidadã brasileira, sei que ano após ano alguma região do país vai sofrer os efeitos da nossa incompetência em prevenir essas tragédias. Já como jornalista, com mais de duas décadas de estrada, posso avaliar como as falhas na comunicação podem ter sido um importante ingrediente para ampliar o problema.
Desde a corrida eleitoral de Barack Obama, em 2008, o uso das redes sociais no marketing político transformou de vez a forma de os políticos fazerem campanhas e de se comunicarem com o eleitorado.
Por isso, não espanta mais a nenhum brasileiro ver prefeitos, governadores e até o presidente se valendo das redes sociais para fazer comunicados e anúncios de todos os tipos.
No dia 29 de abril, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, gravou um vídeo em seu gabinete fazendo um alerta sobre as chuvas, sem apresentar qualquer plano de contingência ou maiores detalhes sobre o que estava por vir.
No dia seguinte, quando parte do RS já estava debaixo d'água, Leite apareceu nas redes usando seu colete da Defesa Civil para alertar para novos riscos. E, de novo, sem informar a população sobre como agir. E assim, sucessivamente, o político fez conteúdos longos e sem direcionamentos claros para os gaúchos.
Está certo que Leite não é influencer e que seu trabalho não é gravar vídeos. Mas, se ele pretende usar esse meio para se comunicar com a população desalojada, sem acesso à energia, água potável ou internet, precisa ser claro e objetivo. Não é o momento para proselitismo.
Se lá no dia 29 de abril ele tivesse informado a população sobre os riscos reais – algo que a Defesa Civil tinha conhecimento e o governo do Estado também – e tivesse traçado um plano para retirar essas pessoas das áreas mais críticas, parte de toda a tragédia humana dessa história poderia ter sido evitada.
No entanto, o que vimos foi uma falta de comunicação e clareza, inclusive para explicar à imprensa porque o Pix do SOS Rio Grande do Sul ia para uma instituição privada e não para os cofres do governo do estado, deixando muitos doadores com uma pulga atrás da orelha sobre o destino desses valores.
Custo a acreditar que Eduardo Leite não tenha assessores capazes de, minimamente, orientá-lo sobre a necessidade de uma comunicação clara e assertiva. Num mundo conectado como o nosso, a falha na comunicação mata.
Já não bastassem as fake news a serem combatidas, o governador perdeu a chance de brilhar menos com seu colete e acertar mais ao passar INFORMAÇÃO para a população.
Está certo que diante do tamanho da tragédia equívocos podem acontecer, mas seguir batendo cabeça no quesito mais importante do momento, é exatamente como o trocadilho: chover no molhado. E sabe quem paga essa conta? Elas, as vítimas!