E o Threads, hein? A pergunta, que já pipoca em outras redes sociais - como o X, eterno Twitter - dá uma pista do que pode ser o futuro dessa plataforma que já nasceu cheia de desafios. Lembra do Clubhouse?
Club o quê?!
Pois é.
Em fevereiro de 2021 a rede social de áudio atraiu milhões de usuários globais, movimentou marcas, celebridades e influencers que correram para criar perfis. Não se falava em mais nada. Mas o hype passou. Em poucos meses, tudo desapareceu levando consigo, inclusive, concorrentes criados na corrida para rivalizar.
E aí que, em pleno 2023, com TikTok engolindo o tempo do mundo enquanto dança e reduz músicas a trechos que nunca mais saem da cabeça, uma nova rede social esperava ter bom desempenho, mas sem nada muito novo. O caminho lógico seria pela inovação, atender demandas ou solucionar problemas. Mas, aparentemente, o Threads ignorou solenemente esse tripé.
Difícil encontrar inovação em uma rede que surge umbilicalmente ligada ao Instagram e que, para fazer parte, é preciso colocar o seu perfil na ex-rede de fotos como garantia. Para excluir o Threads, só perdendo o Instagram junto.
O Threads também não foi criado para suprir uma demanda, já que não faltam plataformas hoje em dia. Ainda que seus contornos estejam cada vez mais tênues, tem uma plataforma para cada perfil de usuário.
Então para quê ela foi criada? Na visão geral, a ideia era rivalizar com o Twitter, esse que agora chama X (mas que é impossível chamar de X). O timing era favorável à Meta. A rede do passarinho havia sido comprada meses antes pelo Elon Musk, mudança que desagradou bastante. Com o Twitter/X ainda enfraquecido, era a hora da concorrência. Mas parece que não deu muito certo…
Para não ficar só em achismos - e angústia, porque não dá para simplesmente excluir a conta - fui buscar dados sobre os primeiros meses da plataforma no ar. Começando pelo Twitter/X, a razão do Threads existir e o x da questão.
A empresa de inteligência de mercado Sensor Tower apontou que, em apenas 15 dias, o Threads perdeu cerca de 70% de seus usuários ativos: 44 milhões quando foi lançada versus 13 milhões duas semanas depois.
Mesmo se mantivesse o pico de usuários do lançamento, ainda estaria longe dos 220 milhões que continuam ativos na rede do passarinho, segundo dados da SimilarWeb.
Há gap também no tempo de permanência: a SimilarWeb aponta que, no lançamento da plataforma, cada pessoa gastava cerca de 21 minutos por dia no Threads; hoje gasta apenas sete. Enquanto isso, a Sensor Tower diz que no Twitter/X os usuários passam 30 minutos por dia.
Vale destacar três pontos importantes sobre o Twitter/X: o primeiro é que a notícia chega antes ali e movimenta conversas. O segundo é a vibe de mesa redonda virtual que mudou completamente qualquer coisa ao vivo. E terceiro, a relação que os tuiteiros (chama “xizeiros” agora?) têm com a rede, em função da distância virtual entre círculos profissional e pessoal.
Mesmo sabendo de tudo isso, a Meta achou que os usuários do Twitter/X iriam replicar o comportamento ou migrar de vez para dentro do Instagram.
Claro que o Twitter/X tem problemas e as outras redes abraçam usuários que não se sentem mais tão bem ali. Mas se nem a gestão Musk, digna de vídeocassetadas, foi capaz de afastar usuários significativamente do Twitter, a Meta achou que conseguiria com com uma rede que de nova não tem “nada”?
Isso é o que eu chamo de otimismo.
Uma busca simples no Google Trends mostra que a procura de usuários brasileiros pela palavra Threads teve um grande pico dia 06/07, um dia depois de ser lançada ao mundo, mas depois sofreu um queda vertiginosa, da qual não se recuperou.
Talvez seja cedo para dizer que flopou, afinal muitas empresas, veículos de imprensa, personalidades e pessoas comuns entraram, e ainda é possível ver no Instagram as atualizações do Threads perdidas entre o que as pessoas realmente gostariam de ver no Instagram. Mas passados três meses, acho seguro dizer que, pelo menos nesse primeiro processo seletivo para o condado das redes sociais, o Threads não passou.
Enquanto há tantos debates importantes sobre a responsabilização das plataformas, as gigantes da internet insistem em ignorar pedidos urgentes do mundo social (como o de trazer o Orkut de volta, pelo amor de Deus!) e lançam coisas que, como dizem na web, prometem tudo e não entregam nada.
Mas isso é assunto para outro fio.