Sim, eu vou começar este texto com um belo nariz de cera*. A pergunta do título pode parecer petulante, é verdade. Mas eu juro que é genuína. Essa é uma curiosidade que venho alimentando ao longo da minha carreira (já cheguei no ponto em que devo parar de contar quantos anos) e, mais especificamente, nos últimos tempos, quando a rotina da escrita passou a ser mais esporádica e tenho me dedicado mais à gestão de pessoas e à revisão e edição de textos de diversos redatores.
É fato que cada pessoa tem o seu estilo de escrita - que é desenvolvido com a prática e com os anos de estudo e dedicação ao ofício. Mas para desenvolver tal estilo, tal marca, é imprescindível entender e saber fazer o básico, o “arroz com feijão”. E então, redator, eu te pergunto: você sabe?
Adoraria, mas não vou entrar aqui nos pormenores da redação jornalística - aquela cuja função primeira é reportar -, pois os detalhes técnicos seriam tantos que eu me perderia e o espaço acabaria (com o perdão da rima). Hoje, são tantas as possibilidades de redação e tantos cursos livres para este ofício, que vou me ater, então, àquilo que todo mundo que se diz redator crê que sabe e que pode fazer: escrever para as redes sociais, produzindo conteúdos digitais para Instagram, Facebook, Twitter e seja lá qual a for a nova rede social do momento.
Você, pessoa que escreve, realmente sabe produzir um post? Não, não basta só “saber escrever”, no sentido de ser alfabetizado. A produção de conteúdo passa por entender o cliente, seus propósitos e objetivos, pelo estudo da concorrência, por buscar compreender as práticas do mercado para o qual se está produzindo conteúdo e, é claro, por muita pesquisa - à exaustão, eu diria.
Um bom conteúdo - ao contrário do que dizem muitos cursos de copywriting e fórmulas mágicas por aí - precisa, antes de tudo, entregar informação relevante. Ainda que seja um “textinho simples” para vender uma marca, produto ou serviço.
Um exemplo: para construir este singelo texto de blog, eu pesquisei sobre o número de analfabetos funcionais no Brasil (30% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais, segundo o INAF - Indicador de Alfabetismo Funcional), sobre o índice de analfabetismo no ensino superior (dados do mesmo indicador apontam que apenas 34% da população universitária tem nível pleno de alfabetismo) e, também, busquei dados sobre leitura entre universitários e demais cidadãos (segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o país perdeu 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019, registrando a maior queda percentual entre os leitores com ensino superior, que foi de 82% em 2015 para 68% em 2019).
Com isso, quero dizer o que, a essa altura, talvez já seja óbvio e reforçar a segunda pergunta do título: você, redator, sabe ler?
Leitura e produção textual caminham juntas
Sei que a última pergunta soará tão insolente quanto a primeira. E é claro que ninguém irá dizer, em voz alta, que é um redator/escritor que não lê. Mas responda, então, em silêncio, não tem problema, não precisa contar para todo mundo. Vou repetir: você lê? Com que frequência?
A leitura é, sim, fator primordial e indispensável à construção de estilo textual, à boa pesquisa, ao aprendizado e ao exercício das técnicas de escrita. E na vivência de revisar e editar textos alheios posso afirmar com toda a certeza: é o que mais falta - não só aos jovens redatores, mas também aos antigos, no que parece ser um paradoxo: a demanda pela produção de conteúdo digital aumenta, enquanto que, justamente pela vivência nas redes sociais, cada vez as pessoas (profissionais da área ou não) leem menos.
E como podemos esperar sermos lidos se não lemos? Como podemos criar bons conteúdos se não nos aprofundamos? Um bom leitor (e um bom redator) desenvolve-se todos os dias. Você lê notícias? Você processa criticamente as notícias que lê (em tempos de fake news, nem preciso falar sobre a importância do pensamento crítico na nossa área, né?!)? Você busca diferentes fontes de informação?
Não raro recebo textos de quem sequer leu o que acabou de escrever. Não sejamos esses redatores. Sejamos os redatores que leem, que apuram, que checam e que buscam, mesmo num “simples post de rede social”, entregar o melhor que têm: seu comprometimento com a escrita, seu apreço pela leitura e pela pesquisa.
É… Acho que são esses os meus votos para 2023. Feliz ano novo!
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* Nariz de cera - Parágrafo introdutório que retarda a entrada no assunto específico. (Definição retirada do Manual da Folha de São Paulo)