No último sábado (28), realizei um dos meus grandes sonhos de adolescência: ir ao show dos Backstreet Boys, com direito a fitinha na cabeça e todos os apetrechos que uma fã merece. Lá, fiz amizades, conheci histórias de superação e amor incondicional, e por vezes, exerci meu lado jornalista, conhecendo a fundo algumas histórias e pensando em matérias futuras - pois nem só de diversão vive a mulher moderna.
Para furar a bolha à la Alice no País das Maravilhas que estava latente em minha cabeça, algo me tirou do eixo. Um artigo um tanto quanto mediano, publicado por um grande jornal de São Paulo, com a seguinte manchete: “Backstreet Boys atiram cuecas para trintonas em show nostálgico em SP”.
Em um verdadeiro show de horrores do início ao fim, a matéria misógina, etarista e machista, classifica por idade algumas mulheres que compareceram ao espetáculo, como se fosse um verdadeiro absurdo elas, com aquela idade, estarem presentes na apresentação de uma boyband. Como se fosse um absurdo existir e viver uma vida normal após os trinta, quarenta ou cinquenta anos. Como se fosse um absurdo “deixar seus filhos em casa com o pai”, para viver seus sonhos.
Explicando brevemente o conceito, o etarismo é o preconceito baseado na idade de pessoas que acabam sendo julgadas como incapazes para trabalhar, tomar decisões ou mesmo realizar tarefas simples do dia a dia, afetando majoritariamente as mulheres.
Fechei a página, respirei fundo, e fui buscar alguns dados sobre o etarismo feminino. No mercado de trabalho, por exemplo, segundo a pesquisa Global Learner Survey - realizada pela Pearson em parceria com a Morning Consult - 74% das mulheres disseram que preconceito e discriminação ainda são ponto difíceis na hora de buscar novas oportunidades.
Depois de ler isso, reabro a matéria e encaro a seguinte frase: “Outra fã, que aparentava estar na casa dos 50 anos, tirava selfies com uma faixinha temática amarrada na cabeça”. E lá está a idade novamente, sendo pauta principal de forma pejorativa, como se fosse algo impeditivo. Talvez, para quem escreveu, fosse.
Há anos, lemos matérias sobre mulheres mais velhas que namoram galãs e “que parecem suas mães”; mulheres que assumem seus fios brancos; mulheres que vestem roupas “que não são para a sua idade”. Vemos a mídia reforçando um estigma que adoece as mulheres há tempos e as levam para mesas de cirurgiões plásticos, por vezes, sem necessidade. Lidamos com um estilo de comunicação que, apesar de noticiar a quebra de padrão, ainda oprime pessoas pelo simples ato de se divertirem
A comunicação deve, acima de tudo, ser um canal de voz e equidade para todos, sem distinção. Sem apegos ao moralismo ou às questões que, com muita luta, viemos quebrando, mesmo que aos poucos, ao longo do tempo.
Como jornalista e mulher, eu quero me divertir independentemente da minha idade, sem me preocupar se daqui a um tempo irei virar um parágrafo de uma chacota qualquer, em uma matéria que poderia ser muito mais do que isso. Quero uma comunicação mais inclusiva, sem quaisquer tipos de preconceitos. E farei a minha parte sem tirar a faixa da minha boyband favorita da cabeça.