A afirmação do título pode até parecer óbvia, mas, acredite, ela não é. Eu gostaria de entender de onde vem a dificuldade latente que a maioria de nós tem em questionar as coisas.
Talvez seja fruto do ambiente escolar - nem sempre acolhedor -, que muitas vezes não nos dá o benefício da dúvida. Manter as aparências custa caro desde a infância e o medo da tiração de sarro dos colegas ou de parecer menos inteligente que os demais acaba nos fazendo ir pra casa cheios de perguntas sem respostas. E isso impacta todo o resto da nossa vida.
Eu tinha muito medo de fazer perguntas. Mas, em algum momento da minha vida acadêmica, isso mudou - a ponto de eu ser mencionada no discurso do paraninfo da minha turma (um professor muito amado por mim, inclusive), que disse algo assim: “como esquecer da Guta, sempre com a mão levantada, até mesmo quando faltam cinco minutos para acabar a aula”. É, eu sei, alguns vão dizer “mas que menina chata” - e eu acho que eu era mesmo.
Há quem diga que esse medo de fazer perguntas está ligado a uma questão cultural e que no Brasil, perguntar ofende, sim - apesar do ditado popular dizer que não. O antropólogo Roberto DaMatta, inclusive, fala sobre isso na obra Você sabe com quem está falando? Estudos sobre o autoritarismo brasileiro. Segundo ele, “em nossa sociedade, a indagação está ligada ao inquérito, forma de processamento jurídico acionado quando há suspeita de crime ou pecado”. E, se formos falar em pecado e dogmas, então, aí há mais um longo caminho para nos explicar o motivo de não questionarmos.
Mas a verdade é que as respostas, realmente, estão nas perguntas. E é fundamental perguntarmos. Todos os dias eu vejo pessoas que têm medo de perguntar. Medo de questionar o cliente, de questionar o colega de trabalho, de pedir informação, de confirmar fatos e por aí vai. O problema é que, quando a gente não pergunta, a gente acaba supondo e, quando a gente supõe, acaba cometendo muitos erros.
Então, voltando ao título: na dúvida, pergunte. Para escrever sobre algo, precisamos perguntar. Na comunicação, por exemplo, não podemos supor. Precisamos questionar o cliente, entender o negócio dele, sua área de atuação, ouvir as suas dores. Precisamos, também, questionar o que nos é dito, questionar o que fazemos, como fazemos e por que fazemos. E, no fim, é fazendo as perguntas certas que chegamos às melhores soluções.
E aí, você tem questionado o suficiente?