Se você é do tipo de pessoa que já teve vontade de excluir o Instagram porque sentia que estava sendo bombardeado com tanta informação, bem-vindo ao clube. Nos últimos 10 anos eu fui uma heavy user das redes sociais: era só surgir uma nova que eu estava lá, criando minha conta. Entretanto, de uns tempos pra cá, meu relacionamento com esses espaços virtuais tem sido um pouco conturbado. E o motivo já é bem conhecido e bastante estudado por muitos teóricos: a comparação e o desejo de ter a vida perfeita que todos aparentam ter.
Segundo o psicanalista Josh Cohen - em matéria para a The Economist - o perfeccionismo é um elemento persistente e profundamente enraizado na condição humana. No entanto, nos últimos anos, vários fatores fizeram com que a busca por um padrão inalcançável tomasse uma parte ainda maior das nossas vidas. Eu, particularmente, atribuo esses “vários fatores” às redes sociais, mas principalmente ao Instagram. Segundo uma pesquisa realizada pela ONG inglesa Girlguiding, uma em cada três jovens de 11 a 21 anos diz que sua maior preocupação online é comparar a sua vida com a de outras pessoas.
Os parâmetros cada vez mais exigentes nos transformaram em competidores. Quem cria conteúdo nas redes está sempre em busca de mais curtidas, mais comentários, mais views, mais seguidores. E é claro que isso não ficaria limitado só ao espaço digital, não é? Os números do Instagram se transformaram em um termômetro social onde quem tem mais, é mais aceito.
Mas, afinal, estamos competindo para que exatamente? Existe um pódio ou pelo menos uma linha de chegada? Onde tudo isso vai nos levar? Essas foram as perguntas que começaram a surgir na minha cabeça depois de algum tempo lutando pra chegar em algum lugar - que, sinceramente, até hoje eu não sei onde fica.
Ao conversar sobre o assunto com a minha terapeuta, ela me disse algo que eu nunca vou esquecer: “enquanto estiver lutando por uma vida perfeita que nunca vai existir, você nunca vai viver a vida que tem”. E isso foi como um banho de água fria para mim, afinal, o que é pior para um ansioso do que não conseguir viver o momento presente?
Enquanto buscamos um ideal completamente fora da nossa realidade, nossa vida passa e a gente nem vê. Focamos tanto no “sucesso” - que nunca vai chegar, acredite, porque tendemos a torná-lo cada vez mais irreal - que esquecemos de, de fato, viver.
Acredito que o grande desafio aqui seja buscar ser uma pessoa melhor - em todos os âmbitos, inclusive o profissional - deixando de lado a ideia de que existe um pedestal a ser alcançado. Quando desaceleramos e paramos para pensar nessas questões, percebemos que, se não existe uma linha de chegada, o que nos resta é aproveitar o caminho.
Nesse sentido, diversos outros ideais pré-estabelecidos caem por terra, como por exemplo a concepção de que, para colocar um projeto em prática ele tem que estar 100% pronto, ou que pra ser um bom profissional a gente tem que abrir mão da nossa vida pessoal e das coisas que nos dão uma sensação de descanso.
O que acontece, na verdade, é o contrário. Diversos especialistas dizem que quando a gente desacelera e equilibra a nossa rotina, a tendência é que nos tornemos mais tranquilos, menos estressados e, consequentemente, mais produtivos. Além disso, nosso poder de foco e concentração se torna muito mais aguçado.
Por isso, finalizo este artigo com um desafio (ao qual eu também vou tentar colocar em prática por aqui): que tal deixar de lado o perfeccionismo imposto pelas redes sociais e aproveitar o processo? Vamos buscar uma relação mais saudável com o Instagram sem deixá-lo ditar a forma como a gente se comporta na “vida real”? E o mais importante: bora desacelerar e aprender a comemorar as nossas próprias conquistas - por mais pequenas que sejam - sem compará-las com as dos outros?
Abaixo vou deixar alguns conteúdos que podem ajudar nesse processo:
- O episódio “A comparação é inimiga da felicidade”, do podcast Bom Dia, Obvious;
- O livro “As coisas que você só vê quando desacelera”, de Haemin Sunim;
- O documentário “O dilema das redes”, do diretor Jeff Orlowski;
- O livro “A coragem de ser imperfeito”, de Brené Brown.